História da Tattoo
História da Tatuagem
Até meados do século XX a tatuagem era popular entre desocupados, criminosos, prostitutas, delinquentes, punks entre outras pessoas “discriminadas”. Era sinônimo de rebeldia e protesto. Mas isso passou a mudar na parte final do século XX. Hoje em dia a tatuagem é frequente entre artistas, esportistas e grandes celebridades, passando a ser sinônimo de liberdade e sucesso.
Introdução:
Acredita-se que a tatuagem é tão antiga quanto a própria humanidade. Ela já foi utilizada para religião e ocultismo, para demarcar povos guerreiros e bandidos, para pessoas consideradas “escória” e celebridades, já foi sinônimo de rebeldia/protesto e paz/amor. Como você pode ver, a Tatuagem vem nos acompanhando durante séculos e já foi utilizada por diferentes propósitos e povos. Mas uma pergunta que fica no ar é: Quando afinal surgiu a tatuagem?
Uma das teorias mais fortes é de que nos primórdios da humanidade, os guerreiros tinham seus corpos marcados involuntariamente em guerras e caças e isso gerava muito orgulho, respeito, reconhecimento e status. Logo algumas pessoas passaram a ferir-se voluntariamente para conseguir esses reconhecimentos. Com o passar do tempo, essas cicatrizes acabaram cedendo espaço para a criação de figuras utilizando-se de tintas vegetais e espinhos para introduzi-las na pele.
Ao longo do anos a tatuagem se difundiu através dos continentes, com diferentes finalidades: rituais religiosos, identificação de grupos sociais, marcação de prisioneiros e escravos (como a tatuagem era usada pelo Império Romano), ornamentação e até mesmo camuflagem.
Segundo Célia Maria Antonacci Ramos, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), autora do livro Teorias da Tatuagem, o principal objetivo da tatuagem seria permitir ao antigos registrar sua própria história, carregando-a na pele em seus constantes deslocamentos.
Mesmo sem ter como afirmamos isso, na pré história desenhos de artes rupestres mostravam figuras humanas com desenhos pelo corpo, já recentemente algumas tatuagens descobertas em múmias mostram que essa teoria é bem plausível e que de fato a tatuagem vem nos acompanhando a pelo menos 5300 anos.
Charles Darwin, em seu livro “A Descendência do Homem” de 1871, afirmava que nenhuma nação desconhecia a arte da tatuagem. “Do Pólo Norte à Nova Zelândia não havia aborigine que não se tatuasse”
Ötztal: o Homem de Gelo, a múmia mais antiga do mundo:
Em 1991 um casal de alpinistas alemães encontrou uma múmia muito bem conservada, de cerca de 5300 anos a.C., nos Alpes italianos. Conhecida como Ötzi, ou Múmia do Similaun, era um homem que tinha entre 30 e 45 anos e media, aproximadamente, 1.65m de altura. Ele foi encontrado em uma geleira dos Alpes de Ötztal perto do monte Similaun, na fronteira da Áustria com a Itália, de onde deriva o seu nome.
Ötztal o Homem de Gelo tinha 61 tatuagens, inúmeras localizadas próximas a articulações, nas pernas e nas costas, muitas próximas de pontos que coincidem com os da acupuntura, que podem ter sido feitas para tratar doenças. Porém algumas delas eram na região do tórax, o que que deixou surpreso o Dr. Albert Zink, diretor do Instituto de Mummies e Iceman em Bolzano e um dos cientistas por trás da descoberta
A Princesa Egípcia, a segunda múmia mais antiga do mundo.
A Múmia Egípcia do sexo feminino, que teria vivido entre 1300 e 1070 a.C., apresentava mais de 30 tattoos com símbolos sagrados, plantas e animais, inscritos na região abdominal, que segundo alguns antropólogos podem estar ligados a rituais de fertilidade.
Entre as tattoos ainda foram localizadas: flores de lótus nos quadris da mãe, vacas no braço e babuínos no pescoço, Olhos de Wadjet: possíveis símbolos de proteção contra o mal que adornam o pescoço, os ombros e as costas da múmia.
“As tatuagens também podem ser uma expressão pública da piedade da mulher”, diz Emily Teeter, uma egiptóloga do Instituto Oriental da Universidade de Chicago, em Illinois. "Nós não conhecemos esse tipo de expressão antes", diz Teeter, acrescentando que ela e outros egiptólogos ficaram "atônitos" quando ouviram falar da descoberta.
“Algumas tatuagens estão mais desbotadas do que outras, então talvez algumas tenham sido feitas em momentos diferentes. Isso poderia sugerir que o status religioso da mulher cresceu com a idade”, diz Austin.
Austin argumenta que a escala dos projetos, muitos deles em locais fora do alcance da mulher, implica que eles eram mais do que adornos simples.
A aplicação das tatuagens "teria sido muito demorado, e em algumas áreas do corpo, extremamente dolorosa", diz Austin. “Para a mulher submeter-se à agulha com tanta frequência mostra não só a sua crença na sua importância, mas também a outros à sua volta".
Veja mais detalhes em nosso conteúdo épico sobre Tatuagens Egípcias. | Olho de Wadjet ou Olho de Horus: É um antigo símbolo egípcio de proteção, poder real e boa saúde. O olho é personificado na deusa Wadjet (também escrito como Wedjat, Udjat, Uadjet, Wedjoyet, Edjo ou Uto. Muito. O olho pode ser tatuado tanto para esquerda (representando a Lua e o Deus Djehuti) como para direita (representa o Sol e o Deus Ra). É um símbolo de proteção contra os espíritos demoníacos. O Wedjat "foi destinado a proteger o faraó na vida após a morte” O Nome Wedjat vem da palavra Wadj que quer dizer verde, que para os gregos e romanos também tem o significado de O Ressuscitado. |
Outros indícios
Várias outras múmias do sexo feminino foram encontradas na região do Vale do Rio Nilo, com marcas, que segundo especialistas tinham desde efeitos médicos, ou seja, para proteger contra doenças até puramente estéticos.
A Tatuagem nas antigas civilizações
Civilização Moche: habitavam o Peru e o Chile e utilizavam a tatuagem como sinônimo de liderança (construíram a Huaca del Sol, maior pirâmide de adobino das Américas). Antigamente acreditava-se que esta civilização era patriarcal, mas em 2006, descobriram uma múmia feminina de aproximadamente 25 anos profundamente tatuada com imagens religiosas e símbolos mágicos de aranhas e cobras em seus pés, pernas e braços.
Civilizações Inuítes: habitavam as regiões do Canadá, Groenlândia e Alasca, se tatuam desde o século XIII para fins de beleza e ter uma pós-vida pacífica. conforme The History of Tattoo:
“As mulheres esquimós usavam tatuagens que, junto a outros enfeites faciais, serviam para aumentar a beleza feminina. Essas tatuagens sinalizavam o status social de uma mulher; por exemplo, que ela estava pronta para casar e ter filhos. As tatuagens muitas vezes eram extensas e incluíam linhas verticais no queixo, com um desenho mais intrincado nas partes da bochecha em frente às orelhas. As marcas eram feitas com agulha e linha, que era coberta de fuligem e então arrastada sob a pele, seguindo um padrão específico. Piercings também eram comuns: joias feitas de ossos, conchas, metais e miçangas e inseridos no lábio inferior. A tatuadora era uma mulher mais velha, em geral uma parente, e havia uma crença de que apenas as almas dos guerreiros mais valentes e as mulheres com grandes e belas tatuagens teriam acesso ao pós-vida. Os homens muitas vezes tatuavam linhas curtas no rosto; nas regiões do Ártico ocidental, os homens caçadores de baleias mantinham registro de seus sucessos com a ajuda dessas linhas.”
Tribo Cree: habitavam a América do Norte, onde os homens tatuavam o corpo inteiro e as mulheres usavam desenhos ornamentais do meio do torso à pélvis, como defesas protetoras para uma gravidez segura.
Tribo Maidu: habitavam o Pacífico, utilizavam a tatuagem em nome da beleza. Como explica Alfred L. Kroeber no livro Handbook of the Indians of California (1919):
“Os maidu estavam no extremo das tribos tatuadoras. No vale ao norte, as mulheres usavam de três a sete linhas verticais no queixo, além de uma linha diagonal saindo de cada canto da boca em direção do canto externo de cada olho. O processo consistia em fazer cortes estreitos e finos com uma lasca de obsidiana… e depois esfregar carvão de noz-moscada selvagem.
Para homens, não existia um formato universal: a marca mais comum era uma faixa reta subindo desde a base do nariz. Como em qualquer outro lugar na Califórnia, linhas e pontos não eram incomuns no peito, nos braços e mãos de homens e mulheres; mas nenhum padrão uniforme parece ter se desenvolvido, exceto no rosto das mulheres.”
Povos Germânicos e Celtas Pré-Cristianismo e Pictos, que habitavam as Ilhas Britânicas: Para esses povos a tatuagem era comum para ambos os sexos.Alias, como curiosidade, a palavra Bretanha deriva de Britons, ou pessoas dos desenhos, como foram descritos por Júlio César, no livro V de suas Guerras da Gália. Já a palavra Pictos deriva do Latin que significa Pintados. Referência clara às tatuagens encontradas naquele povo. As pinturas podiam ser Religiosas, Decorativas ou ainda Místicas. Porém muitos estudiosos apontam que deve ser um pouco de cada.
Povos Aínu: Habitavam o Japão e as mulheres tatuavam a boca e os antebraços, usando fuligem de casca de bétula. Esses desenhos lembravam grandes bigodes, o que confronta com a tradição aínu, onde os homens deixavam de se barbear a partir de uma certa idade. A tradição da tatuagem no Japão ainda se mantém viva com a Máfia Yakuza, que cobrem o corpo inteiro com tatuagens.
Povos Maori: Habitavam a Polinésia e Nova Zelândia a sua tatuagem, intitulada de Ta Moko, envolve muito mais do que apenas arte. São como a identidade de uma pessoa, trazendo inúmeros significados, como: filiação, habilidades, conquistas, tradições, simbolismos sociais e religiosos. De acordo com as tradições maoris, a quantidade de tatuagens que um homem possuía em seu rosto definia a sua nobreza e posição dentro de um clã.
Mas de onde vem o nome Tattoo?
Em artigo publicado em 1769, a tradição começou a voltar à cena, quando o navegador inglês James Cook realizou sua expedição à Polinésia e registrou em seu diário de bordo: “Homens e mulheres pintam seus corpos. Na língua deles, chamam isso de tatau, em inglês "tattoow". Injetam pigmento preto sob a pele de tal modo que o traço se torna indelével”. - Veja mais em nosso artigo: Tatuagem Maori o guia definitivo.
Como a tatuagem chegou ao Ocidente
Como já dissemos acima, os europeus começaram a manter contato com as culturas do pacífico durante o século XVII e esse foi o grande responsável pelo crescimento da tatuagem no ocidente. A tatuagem se tornará moda entre a realeza européia na segunda metade do século XIX, já no final daquele século a tatuagem já era moda em grande parte da Europa, principalmente na Inglaterra, devido aos marinheiros ingleses que tatuavam-se passando a adeptos da arte. Já naquela época muitas pessoas achavam o ato de tatuar como uma tendência a homossexualidade e sinônimo de marginalidade e criminalidade.
No final do século XIX, com a invenção da máquina elétrica de tatuar, mais precisamente em 1891 "data do registro da patente por Samuel F. O’Reilly, de um projeto que nasceu do genial Thomas Edison", o hábito se espalhou ainda mais pela Europa e pelos Estados Unidos, ganhando caráter comercial no início do século XX.
No início do século XIX a tatuagem se tornou muito popular e com caráter comercial entre americanos e europeus, porém ainda muito associada e quase que restrita a classes sócio-econômicas inferiores, prostitutas, criminosos, marinheiros e militares.
No final do século XX, a tatuagem passou de um status negativo para um status positivo e tornou-se uma maneira de expressão e arte muito bem difundida e apreciada entre pessoas de todos os gêneros e classes sociais.
E no Brasil?
Bom no Brasil a tatuagem chegou em 20 julho de 1959, trazida pelo dinamarquês Knud Harald Lykke Gregersen ou popularmente conhecido como Lucky Tattoo ou Mr. Tattoo, que desembarcou no porto de Santos trazendo em sua mala a primeira máquina elétrica de tatuagem do Brasil. Ele se instalou na região portuária de santos, mais precisamente na rua General Camara, onde o slogan do seu estúdio era: “It´s not a saylor if he hasn´t a tattoo”, “não é um marinheiro se não tiver uma tatuagem", bem marqueteiro. Outra estratégia de de marketing de Lucky Tattoo dizia que sua tatuagem trazia sorte e em pouco tempo passou a ser notícia em jornais e tv´s, dentre elas uma reportagem em 1975 no "O Globo" que o considerou como o único tatuador profissional da América do Sul.
Depois de 20 de Santos, após um assalto, Lucky Tattoo se mudou para a praia de Suarão em Itanhaém, onde se manteve tatuando por mais alguns anos. Aos 55 anos de idade, Lucky Tattoo faleceu em 17 de dezembro de 1983, em Arraial do Cabo - RJ, vítima de ataque cardíaco.
Sem dúvida graças a Mr. Tattoo o Brasil está na rota da tatuagem nos dias atuais.
Mas nem tudo são flores na história da tatuagem
Com o Antigo Testamento a tatuagem no Ocidente praticamente se estingüiu durante a idade média, uma vez que o livro de Levitco 19,28 possui uma citação impactante a tatuagem: “Não façais incisões no corpo por causa de um defunto e não façais tatuagem”. Pronto, para muitos isso significava que tatuagem era coisa do demônio. - Leia mais em nosso artigo sobre Tatuagem e Religião.
Logo qualquer cicatriz, má formação ou tatuagem não era visto com bons olhos e as pessoas passaram a ser perseguidas, aprisionadas e mortas em fogueira pela Santa Inquisição.
A Santa Inquisição foi uma espécie de tribunal religioso criado na Idade Média e dirigido pela Igreja Católica Apostólica Romana. Foi fundada pelo papa Gregório IX em 1231 com o objetivo de reprimir e castigar tudo o que fosse considerado heresia pela Igreja.
Já no Japão feudal, as tatuagens eram utilizadas como forma de punição, sendo assim sinônimo de criminalidade. Posteriormente na Era Tokugawa, ser criminoso era sinônimo de resistência a terrível e intensa repressão que assolava o Japão, isso fez com que a tatuagem passasse a se popularizar. Nesse período que nasceu a Yakuza, uma das máfias mais temidas do mundo. Os membros da Yakuza, tinham que possuir o corpo pintado em sinal de oposição ao regime de Tokugawa e em sinal de lealdade e sacrifício a organização. - Veja mais em nosso conteúdo épico sobre tatuagens orientais.
Dias atuais
Vimos que a tatuagem tem inúmeros significados para inúmeras tribos, religiões, culturas e povos, já foi sinônimo de rebeldia e criminalidade, já foi utilizado como cura e ritos de passagens, já foi de norte a sul e de leste a oeste, inclusive sendo motivo de celebração e morte.
Mas nos dias atuais tudo mudou. todos se tatuam e para os mais diversos fins. de Pobre a Rico, de Roqueiros a Sertanejos, de funcionários a CEO´s, de Jogadores de Futebol a Celebridades.
Hoje em dia a tatuagem se popularizou graças a grandes artistas, que deram um grande salto e ignoraram o preconceito a partir do final do século XX. Falando em preconceito, hoje em dia, ainda existem muitos pessoas que tem medo de se tatuar por causa do trabalho, mas isso sem dúvida nenhuma é mais uma barreira que vem sendo destruída dia após dia e já não é mais como poucos anos atrás e dependendo de quando você estiver lendo esse post, você estará se perguntando: Caramba era assim mesmo?
Gostaria de agradecer ao amigo leitor Leonardo Nascimento pela ajuda com algumas informações que encontravam-se incorretas.